justificativa e relevância

Ao falarmos sobre transtornos alimentares, perpassamos por diversos e variados âmbitos da sociedade. Defrontamo-nos com tocantes relacionados à saúde pública, à psicologia e, como é o caso deste projeto, à problemas de gênero – Clarice, protagonista do curta-metragem, é transversalmente definida pela sua realidade enquanto mulher. A anorexia nervosa suscita discussões que, quando conduzidas a nível de debate público, estão comumente embebidas em estigmas e tipos pré-concebidos. Clausura, então, surge como um gesto anímico carregado de diversas pretensões.

Pretendemos contar a história de uma mulher assolada por um transtorno silencioso, trazendo à luz facetas não tão evidentes da anorexia nervosa: os pequenos rituais, a vida invisível que se dá durante momentos de solidão, os medos irracionais que lhe acompanham. Igualmente, agregar à discussão o elemento da maternidade, que parece tensionar ideias heterogêneas pela anorexia ocupar um lugar diametralmente oposto ao cuidado implícito no ato de maternar.

Se a anorexia nervosa atinge cerca de 1% da população feminina mundial, o cinema, enquanto fenômeno social, deveria espelhar esses números. Uma breve pesquisa torna claro que esse não é o caso. São escassos os casos de filmes que se voltam à temática, e ainda mais raros no cinema brasileiro. Onde, destarte, estão estas vidas? Por que elas não ocupam nossas telas? Com Clausura, queremos preencher lacunas a partir de fabulações densamente pensadas e processadas.